TRANSFORMAÇÃO DE VIDAS: RAPARIGAS DE NACURARE COLHEM DIVERSOS PRODUTOS AGRÍCOLAS

"Com o dinheiro dos produtos da machamba, para além de comprar capulanas, vou comprar produtos higiénicos para ajudar na minha higiene pessoal, como por exemplo, pensos e calcinhas".
Em Moçambique, e especialmente na província de Nampula, o percurso das raparigas para uma vida digna é marcado por obstáculos profundos. Desde a infância, muitas enfrentam a dura realidade de uniões prematuras, exclusão escolar, violência baseada no género (VBG) e ausência de oportunidades económicas. Na comunidade de Nacurare, no distrito de Murrupula, a história não é diferente. As raparigas passam os dias entre tarefas domésticas e incertezas sobre o futuro.
No entanto, tudo começou a mudar com a chegada do projecto “Toda a Rapariga é Capaz”. Implementado em consórcio pela Visão Mundial, Associação ActionAid Moçambique (AAMoz) e Rede HOPEM, com apoio da Global Affairs Canada, o projecto criou Espaços Seguros para raparigas como Teresa Calisto, aluna da 8.ª classe, residente em Nacurare. Nestes espaços, para além de debates sobre os seus direitos, as raparigas aprendem habilidades práticas para transformar suas vidas. Entre as muitas iniciativas, a criação de uma machamba foi a que mais se notabilizou.
Teresa e outras raparigas do Espaço Seguro de Nacurare dedicavam-se todos os dias com afinco ao cultivo de um hectare de terra, na esperança de obter uma colheita que poderia transformar suas vidas.
Munidas com enxadas, catanas e botas fornecidas pelo projecto, as raparigas viram o seu esforço diário florescer em milho, feijões frescos e grandes quantidades de amendoim prontos para o mercado.
“Estamos muito felizes com o que conseguimos na machamba”, contou Teresa Calisto visivelmente animada.
Segundo Teresa a colheita é dividida entre o consumo próprio, reserva para novas sementeiras e venda local. Com os lucros, já fazem planos ousados.
“Queremos comprar capulanas iguais para ficarmos uniformizadas, ajudar nas despesas de casa, comprar comida e também começar um pequeno negócio”, detalhou Teresa.
Outra membro do Espaço Seguro, de nome Teresa Agostinho, também já tem planos bem traçados para o dinheiro proveniente da venda dos produtos.
"Com o dinheiro dos produtos da machamba, para além de comprar capulanas, vou comprar produtos higiénicos para ajudar na minha higiene pessoal, como por exemplo, pensos e calcinhas", explicou.
A alegria de ver resultados concretos fortaleceu o espírito colectivo. Agora, as raparigas tornaram-se agentes de mudança nas suas famílias e comunidade.
“Agora, temos milho, feijão e amendoim. Foi fácil trabalhar, porque estávamos unidas e com vontade de vencer”, lembrou.
Teresa fez saber que antes de fazer parte do Espaço Seguro, não tinha nenhuma vocação para a agricultura, mas agora cenário é diferente.
“Antes, só ajudava minha mãe em casa e não sabia o que era semear, mas com este espaço, aprendemos a cultivar,” recorda Teresa, com voz firme e olhar orgulhoso.”
Por sua vez, Adelaide João, facilitadora do Espaço Seguro de Nacurare, testemunha com entusiasmo o progresso do grupo.
“Esta machamba começou do zero. Mostramos às raparigas como limpar o terreno, semear e cuidar das plantas. Hoje, as raparigas tomam iniciativa. O dinheiro deste trabalho será aplicado na compra de pensos higiénicos e outros fins. O que estão a viver é fruto do seu próprio esforçou”, relatou.
Assim como Teresa, várias raparigas ganharam habilidades para vida graças ao apoio do projecto “Toda a Rapariga é Capaz”. A machamba de Nacurare tornou-se num terreno fértil onde floresce a esperança de um futuro mais justo e promissor.
Refira-se que este projecto financiado pela Global Affairs Canada é implementado em consórcio pela Visão Mundial, ActionAid Moçambique e Rede HOPEM. O mesmo é implementado nos distritos de Nacarôa e Murrupula e pretende alcançar 25 000 raparigas e mulheres jovens, dos 10 aos 24 anos.