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“QUERO SER MÉDICA PARA AJUDAR OS OUTROS” - MÁRCIA SILVANO, BENEFICIÁRIA DO PROJECTO PROTECÇÃO À CRIANÇA EM NACALA-PORTO

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O Ciclone Tropical Jude atingiu a costa moçambicana no dia 10 de Março de 2025, tendo deixado um rastro de destruição nas províncias de Nampula e Zambézia. Até 13 de Março, o Instituto Nacional de Gestão de Desastres (INGD) registou mais de 375 mil pessoas afectadas e mais de 81 mil casas danificadas e/ou destruídas. Nas comunidades já marcadas por insegurança alimentar e fraco acesso a serviços básicos, o ciclone agravou ainda mais a vulnerabilidade das famílias – principalmente das crianças.

Para responder a este cenário devastador, a Associação ActionAid Moçambique (AAMoz), com o financiamento do Fundo das Nações Unidas para a Infância - UNICEF, está a implementar o Projecto “Protecção à Criança” nos distritos de Meconta, Ilha de Moçambique e Nacala-Porto, na  província de Nampula. 

O projecto visa garantir a segurança, bem-estar e dignidade das crianças afectadas pelo ciclone, através da criação de Espaços Amigos da Criança, sessões de apoio psicossocial, rastreamento de crianças separadas dos seus cuidadores, distribuição de kits escolares e treinamento de facilitadores comunitários. 

É neste contexto que conhecemos Márcia Silvano, de 15 anos, residente na comunidade de Ontupaia, no distrito de Nacala-Porto. Márcia perdeu parte da sua casa e todo o seu material escolar com a passagem do ciclone. 

“A nossa casa ficou totalmente destruída com o ciclone, perdi material escolar, mas minhas amigas e vizinhos ajudaram-me. Estou muito grata por isso”, relatou Márcia.

Apesar da dor e das perdas, Márcia encontrou força nas sessões do Espaço Amigo da Criança, criado pela ActionAid em parceria com a UNICEF na sua comunidade.

“Aprendi muita coisa no espaço. Aprendi que não se deve aceitar coisas por dinheiro, nem fazer coisas em troca de sexo ou violência. Também aprendi que devemos proteger-nos e denunciar o que não está certo”, partilhou 

A rotina da Márcia não é fácil. Em casa, divide o seu tempo entre tarefas domésticas, os estudos e o apoio aos irmãos mais novos. 

“Quando estou em casa, faço trabalhos de casa, converso com minhas amigas, estudo e ajudo outras crianças mais novas. A minha avó sempre me ajuda e me aconselha a estudar. Ela diz: quando eu morrer, tu vais ajudar os teus irmãos. E eu agradeço muito pelos seus ensinamentos”.

O espaço amigo da criança tornou-se para Márcia um lugar seguro para brincar, aprender e conversar sobre assuntos importantes, como saúde, direitos e protecção. Lá, ela encontrou apoio emocional, amizade e orientação para continuar os estudos. 

No entanto, a avó Teresa Albino, que cuida da Márcia desde pequena, depois da morte da sua mãe, reconhece a transformação da neta desde que começou a frequentar o espaço. 

“Ela comporta-se muito bem em casa, ajuda sempre que pode e é uma miúda muito estudiosa. Está a mudar muito, agora até ensina-me o que aprende no espaço”, partilhou com um sorriso orgulhoso.

Para Márcia, os sonhos não se abalaram com o ciclone. Pelo contrário, ganharam mais força. 

“Quando crescer, gostaria de ser médica, para ajudar quem precisa de ajuda. Há muitas pessoas doentes que não têm quem cuide delas. Eu quero fazer isso, quero cuidar dos outros”, disse com firmeza.

Assim como Márcia, existem dezenas de crianças que viram suas casas desabarem e/ou destruídas na sequência do ciclone Tropical Jude. Apesar disso, através do apoio do projecto “Protecção à Criança” conseguem ver o futuro com esperança, longe da violência e exploração. 

Importa referir que no distrito de Nacala, em Nmapula, foram estabelecidos dois Espaços Amigo da Criança, nos bairros de Mathapue e Ontupaia.