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𝐆𝐄𝐑𝐀ÇÃ𝐎 𝐃𝐄 𝐑𝐄𝐍𝐃𝐀 𝐄 𝐈𝐍𝐂𝐋𝐔𝐒Ã𝐎 𝐒𝐎𝐂𝐈𝐀𝐋: JOVEM DESLOCADO ABRE DUAS MERCEARIAS POR VIA DE POUPANÇA E CRÉDITO ROTATIVO

Buana António beneficiário de PCR

Em Moçambique, a falta de emprego, o conflito armado, o impacto das alterações climáticas e riscos naturais devido à localização geográfica do país, são algumas das razões que aumentam o índice da pobreza, sobretudo, das comunidades mais vulneráveis.

O deslocamento da população, é um dos factores que contribui para o crescimento da situação de vulnerabilidade social.

De acordo com dados partilhados (21,06) pelo Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres (INGD), o terrorismo e calamidades naturais fizeram dois milhões e 500 mil deslocados no país.

É neste contexto que, com objectivo de contribuir para o empoderamento e integração socioeconómica dos deslocados, vítimas do terrorismo em Cabo Delgado, a Associação ActionAid Moçambique, e o seu parceiro Solidariedade Moçambique, estão a implementar a iniciativa de Poupança e Crédito Rotativo (PCR) no âmbito do projecto “Promovendo Oportunidades de Emprego para Jovens” financiado pela Cooperação Belga para o Desenvolvimento.

A iniciativa de PCR, está a servir de meio de melhoria de vida dos deslocados acolhidos, e agora residentes, na província de Nampula.

De vários jovens deslocados vítimas do terrorismo em Cabo Delgado que relatam histórias de sucesso, está o beneficiário Buana Agostinho, membro do grupo “Ajuda Família” estabelecido no bairro de Mathapue, distrito de Nacala, província de Nampula.

Buana é um jovem de 30 anos, chefe de família (casado e pai de uma filha), natural do distrito de Mocimboa da Praia, província de Cabo Delgado. Como muitos deslocados, Buana conta que passou por vários desafios.

“Um deslocado quando chega na comunidade acolhedora tem falta de quase tudo. Eu e outros irmãos vindos de Cabo Delgado, dependíamos da assistência humanitária do governo e das organizações não-governamentais que prestam assistência humanitária aos deslocados, que na sua maioria o foco das intervenções era na assistência alimentar, sanitária, provimento de abrigo e saneamento do meio; poucas são as organizações, como ActionAid, Solidariedade e Cooperação Belga que apoiam na componente de auto-sustentabilidade das famílias afectadas pelo terrorismo”.

Buana Agostinho, conta que viu a sua vida mudar para o melhor quando decidiu integrar o grupo de Poupança de Crédito Rotativo.

“Depois de um tempo a poupar, solicitei um crédito de 50.000,00 Mt (cinquenta mil meticais) no princípio do mês de Fevereiro do presente ano (2023), a fim de abrir uma mercearia de venda de produtos de primeira necessidade, após ter percebido haver procura de produtos alimentares pelos moradores da minha comunidade”.

O beneficiário da iniciativa de Poupança e Crédito Rotativo, conta que a iniciativa permitiu a sua integração socioeconómica, na medida em que, através do empréstimo, permitiu-lhe desenvolver actividades de geração de renda para auto-sustentabilidade da sua família.

“Graças a PCR , hoje tenho duas mercearias, que servem de fonte de renda para 4 pessoas, pois, para além de mim e a minha esposa, emprego mais duas pessoas, também foi possível adquirir espaço (terreno) onde estou a construir.

Entretanto, o beneficiário, que antes resistia fazer parte da iniciativa, recorda que para solicitar o crédito teve momentos de reflexão, pois o medo de não ter sucesso era maior, aliado ainda com as dificuldades que enfrentara e, mesmo assim, decidiu arriscar com olhos virados para a mudança de vida.

“Muitos de nós, chegamos aqui com traumas e medo, e a nossa condição de vulnerabilidade associada ao facto de estar fora da nossa província, gera limitação e até desconfiança social, por isso que, participar dos grupos de poupança aumenta a nossa auto-estima e confiança, e permite uma boa convivência com a comunidade acolhedora, foi isso que me fez perder o medo e pedir o empréstimo”.

Portanto, Buana Agostinho, conta que negou fazer parte da iniciativa por três vezes, e só aceitou na quarta vez, após ser convencido pela mãe, que também é membro do grupo de PCR. Após juntar-se ao grupo, Buana foi escolhido pelos membros para liderar o grupo, por ser exemplar e de compromisso e responsabilidade nos seus empréstimos. Buana exorta aos outros jovens a criarem grupos de poupança porque tal como garantiu, com “50,00 MT (cinquenta meticais)” pode-se iniciar uma caminhada rumo à erradicação da pobreza.

“Temos que aderir à poupança. Eu sou exemplo disso, antes dependia de apoio para sobreviver, actualmente até emprego outras pessoas, a minha própria esposa trabalha comigo e tem direito de salário. Fui o último a entrar no grupo porque não acreditava na iniciativa, mas hoje percebo com o meu próprio exemplo que o PCR é uma forma de poupar e ter acesso a empréstimos financeiros para o desenvolvimento de negócios, melhoria de condições de habitação, aquisição de bens domésticos e de produção e outras necessidades, como a educação dos filhos”, disse.

Tal como Buana Agostinho, mais de mil jovens (maioritariamente composto por mulheres e raparigas em grande parte deslocados de Cabo Delgado) fazem parte dos grupos de Poupança e Crédito Rotativo, nos distritos de Nacala, Meconta e Nampula. Uma iniciativa implementada igualmente nas províncias de Niassa e Cabo Delgado.

A iniciativa de abertura de grupos de Poupança e Crédito Rotativo visa apoiar os jovens a melhorarem a sua literacia financeira e empreendedorismo e, aumentar a consciência sobre fontes e mecanismos de crédito disponíveis e acessíveis para o arranque e expansão de pequenos negócios, por forma a alavancar os meios de subsistência.

Através da iniciativa, a AAMoz, SoldMoz e o Governo da Bélgica estão a contribuir na melhoria da auto-suficiência e meios de subsistência de jovens internamente deslocados, bem como das comunidades acolhedoras nas províncias de Nampula, Niassa e Cabo Delgado.