MÁQUINAS DE CORTE E COSTURA TRANSFORMAM VIDAS DE RAPARIGAS EM NATHUCO E MURRUPA
"Agora consigo costurar com muito mais facilidade e rapidez"
Em Moçambique, as raparigas enfrentam uma série de desafios que afectam a sua educação e o seu empoderamento económico. Os desafios são particularmente mais acentuados na província de Nampula, que, devido aos hábitos culturais e características socioeconómicas, reflecte muitos dos problemas enfrentados por mulheres e raparigas em todo o país.
O acesso à educação para raparigas é frequentemente prejudicado devido às infraestruturas escolares inadequadas, escolas distantes e recursos limitados que podem levar a altas taxas de abandono escolar entre raparigas, que muitas vezes são retiradas da escola para ajudar nas tarefas domésticas ou para cuidar dos seus irmãos mais novos. A pobreza também é um obstáculo, pois as famílias de baixa renda podem não conseguir arcar com os custos associados à educação, como uniformes, material escolar e transporte.
As uniões prematuras e as gravidezes na adolescência também são problemas graves que afectam a continuidade da educação para muitas raparigas. Estudos mostram que raparigas que casam jovens ou engravidam, têm menos chances de concluir a escolaridade e, consequentemente, enfrentam maiores dificuldades para acessar oportunidades de emprego e crescimento pessoal.
O empoderamento económico das raparigas é igualmente limitado em Moçambique, e Nampula não é uma excepção. A falta de acesso a oportunidades de emprego e a habilidades técnicas específicas, impede muitas raparigas e mulheres jovens de alcançar a independência financeira. A economia rural, predominantemente agrícola, oferece poucas alternativas para diversificação e crescimento económico. As raparigas frequentemente têm acesso limitado a recursos financeiros, como crédito e formação empreendedora, o que dificulta a criação de pequenos negócios.
Além disso, a carência de programas de formação profissional e habilidades práticas reduz as chances das raparigas de qualificarem-se para empregos remunerados.
Para fazer face a esses desafios, a Associação ActionAid Moçambique (AAMoz) está a implementar o projecto "Toda a Rapariga é Capaz" num consórcio entre Visão Mundial Moçambique e Rede HOPEM, financiado pela Global Affairs Canadá.
Para empoderar a rapariga e mulheres jovens, foram distribuídas 55 máquinas de corte e costura, para os distritos de Nacarôa e Murrupula, e formação em habilidades práticas, por forma a proporcionar ferramentas para melhorar a sua situação económica.
Na comunidade de Nathuco, localidade de Nacocolo, Estefânia Francisco, é um exemplo do impacto positivo e transformador da actividade de corte e costura. Estefânia dedica-se à agricultura e tem uma paixão por corte e costura, em poucas palavras, conta como a sua vida mudou.
“Antes de receber a máquina, minha vida era muito diferente. Vivia em Nathuco, onde dedicava-me à agricultura e a costura era apenas uma paixão que tentava seguir nas horas vagas. Usava linha e fazia o trabalho manualmente, o que era extremamente cansativo e demorado. Costurando roupas, capulanas e vestidos com as mãos, sentia que nunca alcançava o resultado desejado e o processo era um verdadeiro desafio. A cada peça que terminava, eu sentia-me exausta e muitas vezes o trabalho não parecia valer o esforço. Além disso, a falta de uma máquina adequada limitava muito o que eu podia fazer, e muitas vezes acabava por desistir de projectos que tinha em mente devido à dificuldade”, revelou.
Com a máquina de corte e costura, o trabalho da Estefânia tornou-se muito mais eficiente e prático.
“Agora consigo costurar com muito mais facilidade e rapidez, e isso permite-me trabalhar uma variedade de roupas e vestidos”, explicou.
Para Estefânia, o projecto EGC veio num momento em que mais precisava e expressa a sua total satisfação pela oportunidade proporcionada.
“Sinto-me muito feliz por ter acesso a esta máquina. A minha vida mudou. A oportunidade de aprender a usar a máquina e o treinamento recebido permitiram-me desenvolver habilidades de uma forma que eu nunca imaginei ser possível. Foi uma grande oportunidade aprender a usá-la e agora consigo gerar algum dinheiro com a costura, o que ajuda nas despesas do dia-a-dia”, afirmou, para depois acrescentar que a nova habilidade também aumentou as suas perspectivas económicas, uma vez que consegue diversificar as fontes de renda, para além da agricultura.
Na comunidade de Marrupa, encontramos Albertina Albano, mulher destemida e resiliente, participa do programa de formação em corte e costura no Espaço Seguro e diz estar satisfeita com a nova oportunidade.
“Estamos a ser formadas em corte e costura. Aprendemos a montar e manejar as máquinas com o apoio do facilitador. Assim que terminar a capacitação terei uma fonte de renda e vou ajudar nas despesas de casa”, prometeu Albertina.
Já Maria Dalila, facilitadora do Espaço Seguro de Murrupa, defende que a capacitação em corte e costura está a trazer entusiasmo e oportunidades para as raparigas, pelo que deveria se estender para outras comunidades.
“O impacto das máquinas de costura vai além da formação técnica. Têm proporcionado um grande impulso na autoestima e na motivação das raparigas. Ver os frutos do trabalho das raparigas e perceber que têm a capacidade de contribuir para o sustento das suas famílias é muito gratificante. As raparigas olham como uma potencial fonte de renda e um caminho para a independência económica”, frisou.
Já o facilitador de Corte e Costura, Zaqueu Pedro, considera que trabalhar com as raparigas têm sido facil.
“As raparigas já sabem montar as máquinas sozinhas. Sinto que elas estão muito interessadas em aprender e, assim, fica mais fácil para mim. Farei de tudo para ensiná-las para que possam um dia, ter recursos para a renda familiar”, disse.
Importa referir que o projecto "Toda a Rapariga é Capaz" pretende alcançar cerca de 25 000 raparigas e mulheres jovens dos 10 aos 24 anos nos distritos de Nacarôa e Murrupula.