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𝗘𝗺𝗽𝗼𝗱𝗲𝗿𝗮𝗿 𝗽𝗮𝗿𝗮 𝗣𝗿𝗲𝘃𝗲𝗻𝗶𝗿: Mulheres Criam Alternativas ao Extremismo em Malica-Lichinga

Ao criar espaços onde o conhecimento circula, onde se aprende a gerir recursos e a identificar soluções colectivas, o projecto procura fortalecer a resiliência económica e social das comunidades.

Ao criar espaços onde o conhecimento circula, onde se aprende a gerir recursos e a identificar soluções colectivas, o projecto procura fortalecer a resiliência económica e social das comunidades.

No coração da comunidade de Malica, no distrito de Lichinga, 70 mulheres deram um passo firme rumo à autonomia financeira. São mães, jovens, deslocadas e comunidade acolhedora que, através dos Espaços Seguros dinamizados pela Associação ActionAid Moçambique (AAMoz), participaram num treinamento em literacia financeira, gestão de pequenas empresas e análise de mercado com o sonho comum de mudar as suas vidas através da poupança e do empreendedorismo.

A formação, realizada no dia 27 de Agosto, foi promovida pela ActionAid com o apoio técnico do Instituto Nacional de Emprego (INEP) no âmbito do projecto de Prevenção do Extremismo Violento. O objectivo é de criar alternativas económicas reais para mulheres em situação de vulnerabilidade, reduzindo os riscos de marginalização e exclusão.

"Antes do treinamento, eu já vendia papinha de arroz de forma informal, mas sem saber exactamente como crescer", conta Lima Saide, 35 anos, participante de um dos grupos de poupança. "Agora, depois das capacitações, já sei onde vender, como calcular o meu lucro e até tenho novas ideias de negócio. Só estou a espera do financiamento para colocá-las em prática

Durante a formação, dois grupos de poupança e crédito rotativo (PCR) foram revitalizados. Cada grupo, com 35 mulheres, recebeu kits completos cofres, cadernos, cadeados, máquinas de calcular e foi capacitado em temas que vão desde a estruturação de grupos de poupança até à elaboração de planos de negócios. As participantes discutiram estratégias para o crescimento dos seus micro-negócios, aprenderam a analisar mercados locais e identificaram oportunidades de geração de rendimento.

Mais do que técnicas, o que se viu em Malica foi um despertar colectivo. Em pequenos grupos, as mulheres construíram ideias de negócio e apresentaram-nas em plenária. Algumas dessas ideias desde a venda de hortícolas até pequenos comércios de carvão e sabão já estão a ser preparadas para candidatura a financiamento interno pelos próprios grupos de poupança.

Para além do conhecimento adquirido, a formação também serviu para reforçar o espírito de liderança e organização comunitária. Cada grupo escolheu, de forma participativa, uma equipa de gestão presidente, vice-presidente e tesoureira que será responsável por manter os registos financeiros, organizar os encontros e garantir o bom funcionamento do grupo.

"O mais importante é que agora conseguimos poupar juntas, tanto nós, as deslocadas, quanto as mulheres da comunidade. Também podemos nos apoiar mutuamente nos momentos difíceis”, diz Heriqueta, 37 anos, deslocada interna de Malica.

A acção integra um esforço mais amplo de prevenção do extremismo violento, reconhecendo que a pobreza, o desemprego e a exclusão social são factores de risco, especialmente para jovens e mulheres. Ao criar espaços onde o conhecimento circula, onde se aprende a gerir recursos e a identificar soluções colectivas, o projecto procura fortalecer a resiliência económica e social das comunidades.

Embora ainda haja desafios como o elevado número de participantes com baixa escolaridade a equipa da ActionAid e do INEP reconhece os resultados como encorajadores.

Segundo Tino Daniel, assistente de projectos da ActionAid, “esses grupos são mais que simples mecanismos de poupança, são espaços de solidariedade, aprendizagem e reconstrução de sonhos.” Para ele, representam também uma forma concreta de promover a coesão social e oferecer alternativas reais de empoderamento económico.

Com a formalização dos grupos e o início das poupanças, o próximo passo será acompanhar a implementação dos planos de negócio e garantir que o conhecimento adquirido se transforme em rendimentos reais. A ActionAid irá continuar a apoiar, avaliando oportunidades de micro financiamento e reforçando a ligação entre estas mulheres e os serviços públicos de apoio ao empreendedorismo feminino.

Em contextos marcados pela violência, deslocação forçada e falta de oportunidades, o acesso ao conhecimento e à organização económica representa poder. E em Malica, esse poder está agora nas mãos de mulheres que decidiram não esperar, mas sim agir, poupar, empreender e liderar.

A intervenção é implementada pela ActionAid Moçambique, em consórcio com a Associação ASSANA, CCM-Cabo Delgado e Lichinga, Fundação Nunisa e Associação Kuendeleya, em parceria com a ADIN, e conta com o apoio do Fundo Global de Engajamento e Resiliência da Comunidade (GCERF).