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ALFABETIZAÇÃO DE ADULTOS: A HISTÓRIA DE TERESA SOBRE APRENDIZAGEM NA FASE ADULTA E RESPOSTA A VIOLÊNCIA BASEADA NO GÉNERO

Manhica

A Constituição da República de Moçambique define a Educação como direito e dever de cada cidadão, por isso, o Estado promove a extensão da Educação à formação profissional contínua e a igualdade de acesso de todos os cidadãos (Artigo 88º), promove uma estratégia de educação visando a unidade nacional, a erradicação do analfabetismo, o domínio da ciência e da técnica, bem como a formação moral e cívica dos cidadãos (Artigo 113º).

A alfabetização assume um papel preponderante nos esforços do Governo de combate à pobreza, por isso, liderou o processo de elaboração da segunda Estratégia, que visa aumentar as oportunidades de educação básica dos jovens e adultos, através de um conjunto de acções integradas das instituições do governo e não-governamentais, para a redução da taxa do analfabetismo dos actuais 48,1% para 30% em 2020, contribuindo desta forma para promoção da cidadania e redução da pobreza.

Com efeito, em 2001, o Conselho de Ministros aprovou a Estratégia de Alfabetização e Educação de Adultos e Educação Não-Formal (AEA e ENF), a primeira depois da Independência Nacional, cujo horizonte temporal previa o término da implementação em *2005, mas* esta prolongou-se até 2010, enquanto se desenvolvia a presente Estratégia.

Teresa Baptista de 55 anos, vive na zona de 3 de Fevereiro, no distrito da Manhiça, na província de Maputo. Teresa cresceu numa comunidade onde o acesso à educação era limitado, mas ela sempre teve uma sede insaciável de conhecimento. Compartilhou a sua história, onde falou da importância de saber ler e escrever na fase adulta e as actividades de sensibilização e combate a violência baseada no género na sua comunidade através da metodologia “Reflect”.

“Cresci num momento difícil em que não tinha acesso à escola. Nessa altura tinha vontade de estudar, mas não tive oportunidade, primeiro por ser mulher e depois porque as escolas ficavam a muitos quilómetros de casa”.

Teresa conta que teve a oportunidade de entrar para uma iniciativa levada à cabo pela Associação ActionAid Moçambique (AAMoz) através do Núcleo Académico para o Desenvolvimento da Comunidade (NADEC) denominada "Círculo de Reflect". Esta iniciativa local visa educar e capacitar adultos por meio da leitura e da escrita, ensinando também habilidades para a vida. Apesar dos recursos limitados que tinham, a iniciativa proporcionou um espaço seguro para que as pessoas aprendessem, compartilhassem *os* seus conhecimentos e resolvessem os problemas que os apoquentam

Em meio aos livros e discussões, Teresa floresceu. Ela mergulhou nos livros com curiosidade voraz e aprendeu a ler e escrever com facilidade. Essas novas habilidades abriram um mundo de possibilidades para ela e para outras mulheres da comunidade de 3 de Fevereiro.

“Agora sei escrever, assinar documentos e ler livros. Sinto-me muito feliz e orgulhosa. Os meus filhos nem acreditam. Agora quero continuar a estudar até onde for possível”.

Enquanto Teresa se aventurava pelo mundo dos livros e da escrita, ela também se tornava cada vez mais consciente dos problemas que afectavam as pessoas da sua comunidade. Percebeu que a violência baseada no género era uma triste realidade enfrentada por muitos casais ao seu redor.

Decidida a fazer a diferença, Teresa decidiu usar os seus conhecimentos adquiridos no projecto para ajudar aqueles que sofriam com a violência. Ela tornou-se uma conselheira e passou a orientar casais vítimas de violência doméstica, oferecendo-lhes um ombro amigo e conselhos práticos. Aprendeu igualmente a orientar as vítimas para locais de denúncia.

Teresa organizou palestras e workshops para consciencializar a sua comunidade sobre os direitos das mulheres e o impacto da violência baseada no género nas vidas das pessoas. Ela tornou-se uma voz activa e valiosa na luta contra a violência doméstica na comunidade.

A sua dedicação e acções inspiraram outras mulheres da comunidade a se unirem a ela na busca por um ambiente mais seguro e igualitário. Juntos, formaram um movimento de consciencialização e defesa dos direitos das mulheres, que se espalhou por toda a província de Maputo.

Ao longo dos anos, Teresa viu muitos casais reencontrarem uma vida pacífica e livre da violência. Ela sabia que ainda havia muito a ser feito, mas sua determinação e esperança nunca diminuíram.

Teresa tornou-se um símbolo de resiliência e esperança na sua comunidade, mostrando a todos que mesmo num ambiente desafiador, é possível criar um futuro diferente. A sua história espalhou-se e inspirou outras comunidades a seguir o exemplo dela.

Até hoje, História da Jovem Teresa é contada como um exemplo de como a Alfabetização e a vontade de fazer a diferença podem transformar vidas e mudar uma comunidade para melhor.