Passar para o conteúdo principal

“QUANDO TINHA 15 ANOS FIQUEI GRÁVIDA, MAS NUNCA DESISTI DOS ESTUDOS”, disse Mafalda Tocota, Rapariga beneficiária da bolsa de estudo em Agro-pecuária

Mafalda Tocota, rapariga beneficiária da bolsa de estudo no âmbito do Projecto Every Girl Can

No âmbito da implementação das actividades para o empoderamento da rapariga em Moçambique, a Associação ActionAid Moçambique (AAMoz), através do Projecto Toda a Rapariga é Capaz, atribuiu bolsas de estudo à três (3) raparigas beneficiárias do projecto, para apoiá-las na continuação dos estudos, fazendo ligação entre o ensino geral e técnico-profissional.

Mafalda Armando Tocota, de 19 anos de idade, é natural da província de Nampula, residente no distrito de Murrupula. No âmbito do projecto Toda a Rapariga é Capaz, Mafalda beneficiou de bolsa de estudo para o ensino técnico profissional em Agro-pecuária, no Instituto Politécnico Médio de Murrupula, após aulas de preparação e realização de exames de admissão.

Mafalda Tocota é mãe de uma filha, vive com seus pais e irmãos, numa pequena residência no distrito de Murrupula.

Antes do Projecto Toda a Rapariga é Capaz entrar na sua comunidade, Mafalda ficou grávida com 15 anos e teve uma filha. Sem condições para estudar, dedicava-se aos trabalhos da machamba da sua mãe e nos trabalhos de casa.

“Quando tinha 15 anos fiquei grávida, como era menor fiquei com medo e minha vida não foi fácil, muitas pessoas aqui no bairro falavam e me apontavam com o dedo dizendo que engravidei muito cedo, que estava errada e outras coisas. Durante a minha gravidez, continuei a estudar, nunca desisti, até que tive de interromper quando dei à luz a minha filha, mas depois voltei para concluir a 10ª classe”, explicou Mafalda.

Mafalda Tocota, ingressou no projecto Toda a Rapariga é Capaz em 2023 “através do secretário do meu bairro, ele veio a minha casa e disse que há um projecto que vem ajudar raparigas e mulheres do distrito de Murrupula. Interessei-me e inscrevi-me nas facilitadoras que estavam acompanhadas do secretário, e daí comecei a seguir as regras do grupo, as facilitadoras Faustina e Domingas ensinaram-nos muito sobre os comportamentos e cuidados que uma mulher deve ter, como se prevenir das doenças, gravidezes precoces, planeamento familiar e violência. No meu Espaço Seguro fui escolhida como Secretária e solista do grupo, lá eu gostava de cantar, fazer teatro e dançar”, explicou Mafalda

Ao abordar a questão relacionada com os desafios na sua comunidade, Mafalda apontou para a redução de casos de união prematura, onde antes era normal ver raparigas muito novas envolvidas ou casadas com homens muito mais velhos, por um motivo quase comum na sua comunidade, que é a pobreza. 

Muitas famílias do seu distrito são pobres, o que faz com que algumas delas, por falta de condições para o sustento familiar, acabam forçando as suas filhas à unirem-se maritalmente com homens mais velhos, para se livrar das despesas da filha e também beneficiar-se das regalias do lobolo/casamento.

Para mitigar este problema, a fonte conta que são feitas palestras de sensibilização nos bairros e até nas casas, para explicar principalmente aos pais, que a prática da união prematura é crime e é punível nos termos da lei 19/2019.

“Aqui na minha comunidade, verificamos que os casos de união prematura reduziram significativamente, posso até dizer que desde que o projecto entrou aqui, nunca ouvi um caso de união prematura realizada depois do início do projecto”, disse Mafalda.

Mafalda conta que tem muitos planos para quando terminar o seu curso, como influenciar as outras meninas a não desistir dos seus sonhos e tornar-se numa Técnica Agrícola. “Daqui a dois anos, quando terminar os estudos, espero trabalhar e ser uma Técnica Agrícola e agradeço ao projecto, que tem nos dado oportunidades de crescer em todas as áreas da nossa vida”.

Refira-se que o Projecto Toda a Rapariga é Capaz está a ser implementado na província de Nampula, nos distritos de Murrupula e Nacarôa, pelo consórcio liderado pela Visão Mundial em parceria com a ActionAid Moçambique e Rede HOPEM, através de fundos da Global Affairs Canada.