APESAR DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS: AGRICULTURA GARANTE EDUCAÇÃO E SUSTENTO DE FAMÍLIAS EM CAIA
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A agricultura em Moçambique enfrenta desafios profundos, agravados pelas mudanças climáticas e fenómenos naturais extremos, como o El Niño. Estatísticas recentes mostram que mais de 70% da população depende da agricultura de subsistência, o que torna o impacto das mudanças climáticas numa ameaça à segurança alimentar.
A falta de infraestruturas de irrigação, acesso limitado a tecnologias modernas e pouca diversificação de culturas deixam os agricultores vulneráveis às condições climáticas imprevisíveis. Além disso, o uso de técnicas agrícolas tradicionais, muitas vezes ineficientes, agrava a situação, o que torna o trabalho mais árduo e os rendimentos mais baixos.
Para dar resposta a estes desafios, a Associação ActionAid Moçambique (AAMoz) está a promover iniciativas resilientes ao clima, no distrito de Caia, em Sofala, através dos projectos “Reconstrução Pós-Ciclone Idai” que conta com o financiamento da Fundação Alborada e “Gestão Integrada de Riscos Climáticos” (ICRM), financiada pela Agência de Cooperação Internacional da Coreia (KOICA) em parceria com o Programa Mundial de Alimentação (PMA).
Os projectos visam, na verdade, melhorar a produção agrícola, aumentar a resiliência das comunidades e garantir a segurança alimentar.
Uma das iniciativas é construção de sete (7) sombráculos numa área 600 m², nas comunidades de Nharugue, Chibongoloa, Tanga-Tanga, Sombe e Njezera destinada ao cultivo de hortícolas como cebola, pimenta, tomate, alho e couve-tronchuda, que beneficiará um total de 557 agricultores.
Na comunidade de Sombe, uma região de difícil acesso, que conta um total de 100 beneficiários, encontramos Joana Luís, uma agricultora resiliente que enfrenta os desafios de mudanças climáticas e dos impactos do fenómeno El Niño, fala dos impactos positivos que o projecto teve na sua vida.
“Tivemos muitos ganhos com a construção dos sombráculos. Consegui comprar material escolar para as crianças, comprar animais para criação e ainda fazer poupança com outras mulheres da minha comunidade”, disse Joana, visivelmente alegre.
Joana conta que várias famílias abandonaram esta iniciativa devido à fome, mas ela continuou firme e resiliente.
“De início éramos muitas pessoas, mas por causa da fome muitos sumiram e tivemos que criar outro grupo. Lançámos as primeiras sementes e falhou por causa de pragas. As segundas e terceiras também falharam, e só funcionou na quarta tentativa. No entanto, quando começámos a colher, a nossa vida melhorou muito”, explicou.
Apesar dos ganhos, Joana apontou como desafios a compra de uma motobomba para irrigar os campos e o alargamento dos campos agrícolas.
“Se existissem mais motobombas seria ainda melhor. A nossa avariou, e deslocar-se ao rio para buscar água é muito complicado e desgastante. Outra questão que nos preocupa é espaço reduzido do sombráculo. Para o número de membros e beneficiários, há necessidade de alargar a área”, defendeu.
Ana João, de 45 anos e mãe de três filhos, também expressa a sua total gratidão pelo apoio recebido.
“Graças ao projecto “Reconstrução Pós-Ciclone Idai”, consigo vender o excedente da minha produção e ajudar no sustento da minha família. O dinheiro das vendas permite-me pagar as despesas familiares e garantir que os meus filhos tenham uma vida melhor”, afirmou Ana.
Importa referir que a implementação do projecto Alborada, em Caia, tem sido importante para fortalecer a resiliência das comunidades face às adversidades climáticas através de novas técnicas de cultivo e recursos que lhes permitem uma produção mais sustentável e eficiente.