ESPAÇO AMIGO DA CRIANÇA OFERECE ESPERANÇA E PROTECÇÃO EM JEMBESSE APÓS A PASSAGEM DO CICLONE JUDE

“Aprendemos a desenhar, estudar, proteger as crianças e ajudarmos aqueles que não estudam. Também desenhamos muito”.
Após a devastação causada pelo ciclone tropical Jude na Ilha de Moçambique, particularmente na comunidade de Jembesse, crianças e famílias enfrentam um processo difícil de recuperação. Muitas casas ficaram submersas e centenas de famílias viram-se repentinamente sem abrigo, numa situação de extrema vulnerabilidade.
Foi nesse contexto, que a Associação ActionAid Moçambique (AAMoz) com o apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância – UNICEF, estabeleceu Espaços Amigos da Criança que surgem como uma resposta essencial para garantir protecção, apoio psicossocial e continuidade educativa às crianças afectadas.
No Espaço Amigo da Criança de Jembesse, por exemplo, coordenado por animadores locais capacitados, as crianças encontram diariamente um ambiente seguro onde podem brincar, aprender e expressar-se livremente. As actividades incluem sessões de apoio psicossocial, jogos educativos, rodas de conversa sobre higiene e direitos da criança, bem como momentos de expressão artística, canto e dança. As sessões são divididas por faixas etárias de 4 a 9 anos, 10 a 12 e 13 a 18 anos, o que permite uma abordagem ajustada às necessidades de cada grupo.
Idelson Firmino, um dos participantes do espaço, em Jembesse, contou como as sessões têm transformado o seu dia-a-dia.
“Aprendemos a desenhar, estudar, proteger as crianças e ajudarmos aqueles que não estudam. Também desenhamos muito”, explicou.
Idelson conta ainda, com tristeza, que no seu bairro “muitas casas ficaram inundadas e outras desabaram”, mas afirma que tenta manter a rotina “quando acordo, lavo a cara, tomo banho, vou à escola, faço os trabalhos de casa e outras coisas”, disse.
Além das crianças, os espaços também envolvem adolescentes e adultos nos processos de sensibilização e defesa dos direitos da criança. Rosenilde Renato, que integra o Comité de Protecção à Criança, é uma das raparigas com uma voz activa na comunidade.
“As crianças têm direitos e deveres: ser livres, brincar, estudar. Quando estudam, podem ser alguém na vida”, afirmou com convicção.
Rosenilde também chama atenção para a distribuição de tarefas em casa “tem trabalhos que são para crianças, mas há outros que devem ser só para adultos, como carregar grandes quantidades de água”.
Segundo dados do Instituto Nacional de Gestão do Risco de Desastres (INGD), o ciclone Jude afectou mais de 1 milhão de pessoas, sendo 94% delas, na província de Nampula. O impacto foi severo: casas desabaram, telhados foram levados pelo vento e famílias inteiras ficaram sem onde dormir. A dor e o desespero eram visíveis nos rostos, especialmente das crianças. Em resposta, os Espaços Amigos da Criança têm oferecido uma nova esperança, para dezenas de meninas e meninos.
Além das actividades lúdicas e educativas, os espaços funcionam como uma rede de protecção. Animadores gestores de casos e membros dos comités de protecção monitoram sinais de abuso, negligência e outros riscos, e encaminham os casos às autoridades competentes. A comunidade também é envolvida através de sessões de esclarecimento para pais e cuidadores.
“Aqui, as crianças sentem-se livres para ser crianças outra vez”, afirmou Netra Jacinto, uma das animadoras do Espaço Seguro de Entete, outro espaço estabelecido pela AAMoz naquele distrito, e sublinhou o papel dos espaços na recuperação emocional das crianças. “O que elas passaram foi muito duro. Mas agora têm um lugar seguro, onde podem brincar, sorrir e aprender”, relatou.
Refira-se que a Associação ActionAid Moçambique (AAMoz), com o financiamento do Fundo das Nações Unidas para a Infância - UNICEF, está a implementar o Projecto “Protecção à Criança” nos distritos de Meconta, Ilha de Moçambique e Nacala-Porto, na província de Nampula.