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PREVENÇÃO DO EXTREMISMO VIOLENTO: JOVENS DE NIASSA TRANSFORMAM DESAFIOS EM OPORTUNIDADES

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O norte de Moçambique tem sido palco de uma crise humanitária devastadora desde 2017, quando insurgentes armados iniciaram ataques na província de Cabo Delgado. A violência, que se expandiu para as províncias vizinhas de Niassa e Nampula, já resultou em mais de 5.000 mortes e mais de um milhão de deslocados. As raízes do conflito estão na marginalização socioeconómica das comunidades locais, na exploração de recursos naturais sem inclusão dos residentes e na vulnerabilidade da juventude ao recrutamento por grupos extremistas.

Os jovens e líderes religiosos têm sido alvos principais para o recrutamento nesses grupos, especialmente nas regiões onde o desemprego é elevado e as oportunidades de autoemprego são limitadas. A falta de perspectivas e a manipulação ideológica são alguns dos factores que facilitam a adesão de jovens a grupos extremistas violentos.

Para combater este fenómeno, a Associação ActionAid Moçambique (AAMoz), em parceria com a Agência de Desenvolvimento Integrado do Norte (ADIN), implementa na província de Niassa o projecto Prevenção do Extremismo Violento (PVE), com o financiamento do Fundo Global de Engajamento e Resiliência da Comunidade (GCERF). A iniciativa foca na capacitação de jovens, criação de grupos de poupança e crédito rotativo (PCR) e incentivo ao empreendedorismo para oferecer alternativas sustentáveis e reduzir a vulnerabilidade ao recrutamento extremista.

Além dos grupos de PCR, a AAMoz promove diálogos comunitários sobre coesão social, respeito mútuo e tolerância, para criar um ambiente de prevenção ao extremismo violento.

Bonamar Carlos, um dos beneficiários do projecto, da comunidade Lussanhando encontrou no grupo de poupança e crédito rotativo a oportunidade de investir na sua machamba. 

“Tenho uma machamba aqui de um hectare onde produzo milho e batata para vender. Consegui comprar adubo para aplicar na minha machamba graças ao grupo de poupança e crédito rotativo. O nosso solo aparentemente é produtivo, mas para as plantas crescerem bem é necessário colocar fertilizantes para melhorar a produtividade. O que gostaria de pedir é mais apoio para continuar a expandir a minha machamba. Com o dinheiro que conseguir com a venda dos produtos, vou aplicar nas despesas de casa e em outros investimentos”, contou.

Na comunidade de Naossa, India Amisse viu sua vida a mudar ao entrar para um grupo de PCR. 

“Eu tinha uma loja pequena, mas depois comecei a fazer parte deste grupo de PCR. Foi a partir desse momento que comecei a poupar e depois consegui pedir 12.500 meticais para investir na minha loja. Comprei vários produtos básicos e o negócio está a andar bem. Consigo alimentar a minha família e comprar sementes para a minha machamba. Antes deste projecto, as coisas andavam lentamente, mas o projecto veio melhorar a minha vida. Espero continuar a poupar para um dia voltar a levar dinheiro para plantar, comprar mais produtos ou abrir outra loja”, disse.

Jaime Saide, também da comunidade de Naossa, também reforçou o impacto positivo da iniciativa da AAMoz e GCERF na sua vida. 

“Tenho uma plantação de repolho. Graças ao grupo de PCR, consegui poupar e comprar adubos para melhorar a produtividade. Sinto que está a crescer bem. Com a venda, irei devolver o dinheiro para que outros membros do grupo possam investir em suas atividades. Antes, a produção era fraca, mas com o projecto aumentei a produtividade. Irei continuar a poupar para investir mais na compra de sementes”, sublinhou.

Acha Salimo, da comunidade de Naossa, acredita que os grupos de PCR são uma ferramenta de mudança para a juventude local.

“Estou muito feliz por fazer parte do grupo de poupança, e poupamos todas as sextas-feiras. Aqui somos 30 jovens. A iniciativa tem nos ajudado a desenvolver actividades económicas para o nosso auto-sustento. Muitos jovens não têm oportunidades, mas aqui conseguem ver algum futuro, uma vez que nos ajudamos. Outra coisa importante é que no grupo aprendemos sobre o respeito, coesão social e promoção da paz. Queremos que os jovens não adiram ao extremismo violento”, explicou.

Importa referir que o projecto PVE na província de Niassa, é implementado em Lichinga nas comunidades de Lussanhando, Naossa, Matemangue e Malica.