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RAPARIGAS DE NACURARE TRANSFORMAM VIDAS ATRAVÉS DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA

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“Vou comprar roupa para os meus irmãos, comida e outras coisas”, disse entusiasmada.

Em Moçambique, as raparigas enfrentam uma série de desafios que afectam a sua educação e o seu empoderamento económico. Os desafios são particularmente mais acentuados na província de Nampula, que, devido aos hábitos culturais e características socioeconómicas, reflecte muitos dos problemas enfrentados por mulheres e raparigas em todo o país. Problemas como a Violência Baseada no Género (VBG), uniões prematuras e a falta de acesso à educação e oportunidades económicas ainda limitam a participação plena das mulheres na sociedade.

Na comunidade de Nacurare, distrito de Murrupula, província de Nampula, a realidade não difere, muitas raparigas enfrentam dificuldades económicas que as obrigam a abandonar a escola e assumir responsabilidades domésticas desde cedo.

É neste contexto que o projecto "Toda a Rapariga é Capaz", implementado em consórcio pela Visão Mundial, Associação ActionAid Moçambique (AAMoz) e Rede HOPEM, com financiamento da Global Affairs Canadá, tem feito a diferença. Foram estabelecidos 20 espaços seguros para raparigas distrito, onde são promovidos, por exemplo, os direitos da mulher, acesso a recursos produtivos e desenvolvimento de habilidades económicas. Em Nacurare, o impacto dessa intervenção já é visível, especialmente através da machamba criada pelas raparigas.

Com um hectare de terra cultivado com amendoim, as 30 raparigas do espaço seguro de Nacurare encontraram na agricultura uma alternativa para melhorar as suas condições de vida. Equipadas com 30 enxadas, 30 catanas e 30 pares de botas adquiridos pelo projecto, trabalham diariamente na machamba. O objectivo da produção é suprir algumas das suas necessidades básicas, além de garantir um futuro mais promissor através da venda dos produtos agrícolas.

Para Teresa Calisto, uma das raparigas envolvidas na iniciativa, esta oportunidade pemitirá concretizar alguns objectivos.

“Vou comprar roupa para os meus irmãos, comida e outras coisas”, disse entusiasmada.

Conta ainda que no espaço seguro “aprendi a capinar, semear amendoim, os meus pais admiram-me pelo trabalho que faço na machamba”.

Kátia Artur, outra membro do espaço seguro, relembra o seu início no projecto e as habilidades que adquiriu.

“Quando entrei, não sabia capinar, mas encontrei este programa e aprendi a fazer machamba. Aqui aprendi a capinar, semear amendoim, sachar e agora estou contente por ter esta oportunidade,” explica.

Segundo Kátia, a colheita será dividida: uma parte será reservada para futuras sementeiras, enquanto outra será vendida para auxiliar as famílias das raparigas na compra de vestuário e alimentos.

Por seu turno, a facilitadora do espaço seguro, Adelaide João, acompanha de perto o crescimento e a aprendizagem das raparigas.

“Esta machamba, primeiro, foi limpa por nós. Queimamos as árvores e ensinamos as raparigas a semear. Como resultado, uma parte da produção será vendida e outra será guardada para o próximo ano. Com o dinheiro, queremos comprar capulanas que servirão de uniforme,” esclareceu Adelaide.

Importa referir que o projecto "Toda a Rapariga é Capaz" pretende alcançar cerca de 25 000 raparigas e mulheres jovens dos 10 aos 24 anos nos distritos de Nacarôa e Murrupula.