Esta constatação surge à margem do debate realizado esta quinta-feira (17), pela Associação ActionAid Moçambique (AAMoz), que tinha como tema a participação dos jovens nos processos eleitorais em Moçambique.
Na ocasião, o académico Justino Quina, referiu que a percentagem de participação nos pleitos eleitorais tende a reduzir desde as primeiras eleições gerais, sendo que nas últimas não passamos dos 50%. Sabendo que parte significativa dos eleitores é jovem, Quina, defende que é urgente priorizar a formação destes, uma vez que o acesso à informação é limitada.
“Se avançarmos na formação dos jovens, estaremos mais habilitados para obter informações dos processos políticos do país. As universidades podem promover ideias ligadas a cidadania, ensinando que eles são úteis e que podem contribuir de diversas formas. A participação não deve ser apenas para jovens que estão nos cargos políticos, mas deve envolver aqueles que estão nas localidades”, disse Quina.
Por sua vez, o jornalista e académico Lázaro Mabunda, recordou os vários momentos em que jovens foram determinantes no país e no mundo, lamentando o facto de os jovens moçambicanos serem instrumentos de manipulação dos processos eleitorais, daí questionar-se como podem ser agentes determinantes da transparência e prestação de contas.
“Em democracia nem todos podemos governar, por isso escolhemos pessoas com capacidade de nos governar. Eles têm o dever de vir prestar contas daquilo que fazem. Foram jovens moçambicanos que iniciaram e decidiram criar partidos políticos. Eles iniciaram a guerra e libertaram o país. Em África toda luta de libertação colonial foi liderada por jovens. Se os jovens são instrumentos de manipulação dos processos eleitorais, como eles podem ser determinantes? Se eles lideram a violência eleitoral, são inimigos dos seus adversários, estão divididos, como eles podem ser determinantes? Esta divisão facilita os seus líderes”, desabafou Mabunda.
Já o jurista Custódio Duma, aponta a juventude como o “Messias” para os seus próprios problemas, porque foram eles que lideram e lideraram os processos de transformação, emancipação e industrialização no mundo.
“Os jovens têm pressa. Essa pressa acaba por ser uma isca para serem aliciados. Isso acaba sendo uma armadilha. Eles podem entrar no tráfico humano e no terrorismo. É que o mesmo sangue forte que temos para fazer mudanças é o mesmo que pode ser usado para nos aliciarem até atingir um estágio de doença mental. Os Jovens perderam a confiança de quem devia fazer algo. Estão frustrados com as nossas instituições, quando queremos marchar nos prendem, enquanto são aqueles que deviam dar-nos segurança”, defendeu Duma.
Por sua vez, o analista de relações internacionais e diplomacia, Mohamed Yassin, explicou que em alguns estados africanos há um entendimento de que ninguém pode assumir o poder sem o apoio da juventude. Há igualmente uma agenda para oportunidades, mas infelizmente não há oportunidades para Juventude.
“Existem desenhos bonitos, mas não existem recursos. Um jovem é manietado por causa da liderança política. Não podemos permitir ser uma caixa de ressonância. A melhor forma de mudar o qualquer país é participar”, disse Yassin, tendo acrescentado que na parte central de África há um fenómeno novo de golpes de Estado “a questão que devemos colocar é o que há de errado lá e certo aqui”.
Importa referir que estes quatro intervenientes fizeram parte do painel que debruçou à volta da participação dos jovens nos processos de governação e de tomada de decisão em Moçambique, o caso concreto das eleições.