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𝐄𝐃𝐔𝐂𝐀ÇÃ𝐎 𝐈𝐍𝐂𝐋𝐔𝐒𝐈𝐕𝐀 É 𝐔𝐌 𝐃𝐈𝐑𝐄𝐈𝐓𝐎: CONHEÇA A HISTÓRIA DA PEQUENA CRISTINA

Protecção à Criança

Protecção à Criança

Na comunidade de Jembesse, no distrito da Ilha de Moçambique, na província de Nampula, vive Cristina Onzilista, uma menina de 7 anos com deficiência visual, que sonha em ser professora. Desde muito cedo, Cristina aprendeu a explorar o mundo com os ouvidos, o tacto e o coração.

Mas foi ao participar pela primeira vez num Espaço Amigo da Criança, criado pela Associação ActionAid com fundos da UNICEF, no âmbito da resposta ao ciclone Jude, que ela passou a sonhar e a saber que ter registo civil e acesso à educação inclusiva não são favores, são direitos.

Antes disso, Cristina vivia em casa, isolada do convívio escolar, apesar do seu desejo de aprender. A mãe confessa que, com receio de que a filha sofresse discriminação ou rejeição devido à sua deficiência, optou por mantê-la afastada da escola como forma de protecção. 

“Pensava que estava a proteger. Mas quando vi a Cristina a cantar e a recitar vogais com tanta alegria no Espaço Amigo da Criança, as activistas fizeram-me compreender que o verdadeiro acto de amor é garantir que todas as crianças independentemente das suas limitações possam sentir-se protegidas, sonhar e recuperar a esperança e uma vida com dignidade.”

Para além da pequena Cristina, de 7 anos, Atija Ali, de 24 anos, é também mãe de mais duas crianças, um menino de 3 anos e uma bebé de apenas 2 meses. Com lágrimas nos olhos, Atija partilha a dura realidade que vive desde a passagem do ciclone Jude. 

“Vivíamos numa casa emprestada. Quando o ciclone passou, destruiu tudo. Ficou apenas o espaço vazio, sem paredes, sem tecto, sem nada. Perdemos quase tudo".

As consequências não foram apenas materiais. Atija relata que o trauma afectou profundamente os seus filhos. 

“As crianças ficaram muito assustadas, por isso que, ver a Cristina a sorrir, a estudar e a brincar com outras crianças, alegra o meu coração.”

Foi nesse contexto de emergência que a UNICEF e a ActionAid activaram uma resposta humanitária centrada na criança, com intervenções de protecção e apoio psicossocial levadas directamente às comunidades. Através de Brigadas Móveis de Protecção à Criança, passaram a realizar sessões regulares em Jembesse, garantindo o acesso às crianças, inclusive aquelas com deficiência, actividades educativas, lúdicas e terapêuticas.

Num desses encontros, Cristina surpreendeu todos. Mesmo sem nunca ter frequentado a escola, recitou vogais e contou números com uma clareza impressionante. O seu entusiasmo e vontade de aprender eram visíveis. As activistas da brigada acompanharam o caso de perto e logo identificaram um obstáculo importante: Cristina não possuía registo de nascimento.

Graças à brigada de registo civil, também apoiada pela UNICEF, Cristina foi uma das primeiras a ser registada, o que abriu caminho para a sua reintegração escolar.

Hoje, Cristina está integrada como assistente na primeira classe, com o apoio da escola e acompanhamento contínuo da brigada. Todos os dias, a mãe leva-a à escola. 

“Agora ela já recita o abecedário! E ver outras crianças a brincar com ela, sem medo nem rejeição, alivia o meu coração. Já não tenho aquele medo que me paralisava antes”, partilha Atija, emocionada.

Apesar dos avanços, os desafios permanecem. Cristina ainda precisa de um uniforme escolar e de materiais adaptados à sua condição visual. A escola e a comunidade fazem o possível, mas os recursos são limitados. 

O trabalho da ActionAid, em parceria com a UNICEF, não se limita a Jembesse. Actividades semelhantes estão a ser implementadas nos distritos de Meconta e Nacala, onde o impacto do ciclone Jude também foi devastador. Em cada local, o objectivo é o mesmo: criar espaços amigo da criança, afectivos e inclusivos, onde todas as crianças com ou sem deficiência possam crescer protegidas, recuperar a esperança e construir uma vida com dignidade.